Para Educar Crianças Feministas - Resenha crítica - Chimamanda Ngozi Adichie
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Para Educar Crianças Feministas - resenha crítica

Para Educar Crianças Feministas  Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Sociedade & Política

Este microbook é uma resenha crítica da obra: 

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 8535928510, 978-8535928518

Editora: Companhia das Letras

Resenha crítica

A ideia do livro

Chimamanda decidiu escrever este livro quando uma amiga de infância lhe perguntou o que devia fazer para criar sua filha como feminista. Sua primeira reação foi pensar que não sabia. Parecia uma tarefa imensa. A escritora nigeriana já havia se manifestado publicamente sobre o feminismo, e talvez por isso a amiga lhe considerasse uma especialista no assunto. Em resposta ao pedido da amiga, resolveu lhe escrever uma carta, na esperança de que fosse algo prático e sincero, e também que servisse como uma espécie de mapa das próprias reflexões feministas. Este livro é uma versão da carta, com algumas pequenas alterações.

Conselhos

A autora tem uma filha pequena e admite a facilidade que temos para dar conselhos para os outros criarem seus filhos, sem enfrentar na pele essa realidade tremendamente complexa. Ainda assim, se faz urgente tratar das diversas formas possíveis de se tratar os filhos, dando preferência às que incentivem a preparação para um mundo mais justo também para as mulheres.A amiga de Chimamanda disse que iria “tentar” seguir suas sugestões.

Primeira sugestão: Seja uma pessoa completa.

A maternidade é uma dádiva maravilhosa, mas não seja definida apenas pela maternidade. Seja uma pessoa completa. Vai ser bom para sua filha. Marlene Sanders, a pioneira jornalista americana, a primeira mulher a ser correspondente na Guerra do Vietnã (e ela mesma mãe de um menino), uma vez deu este conselho a uma jornalista mais jovem: “Nunca se desculpe por trabalhar. Você gosta do que faz, e gostar do que faz é um grande presente que você dá à sua filha”.

Mãe tradicional

A cunhada da amiga de Chimamanda a recomendava a ser uma mãe “tradicional” e ficar em casa. Segundo ela, a criança recém-nascida precisava de outra fonte de renda para sustentar a família. As pessoas vão usar a “tradição” seletivamente para justificar qualquer coisa. Todo mundo vai dar palpites, dizendo o que se deve fazer, mas o que importa é o que você quer, e não o que os outros querem que você queira. Por favor, não acredite na ideia de que maternidade e trabalho são mutuamente excludentes.

Segunda sugestão:Façam juntos.

Lembra que aprendemos no primário que verbos são palavras “de ação”? Bom, pai é verbo tanto quanto mãe. Às vezes, as mães, tão condicionadas a ser tudo e a fazer tudo, são cúmplices na redução do papel dos pais. Pode ser que o pai de seus filhos não dê banho nas crianças da forma como as mães gostariam. E daí? Qual é o máximo que pode acontecer? Os pais também amam seus filhos e é bom que as crianças sejam cuidadas por eles. Então, relaxe, esqueça seu perfeccionismo, deixe de lado seu senso socialmente condicionado de dever. Dividam igualmente a criação. “Igualmente” depende, claro, de ambos, e vocês vão dar um jeito nisso, prestando atenção às necessidades de cada um. Não precisa ser uma divisão literalmente meio a meio, ou um dia você, um dia ele, mas você vai saber se estão dividindo igualmente. Vai saber por não se sentir ressentida. Porque quando há igualdade não existe ressentimento.

A linguagem de ajuda

Por favor, abandone a linguagem da ajuda. Os pais não estão “ajudando” a cuidar dos filhos. Estão fazendo o que deveriam fazer. Ao dizermos que os pais estão “ajudando”, o que sugerimos é que cuidar dos filhos é território materno, onde os pais se aventuram corajosamente a entrar. Não é. Você consegue imaginar quantas pessoas seriam hoje mais felizes, mais equilibradas e contribuiriam mais com o mundo se os pais tivessem tido presença ativa durante a infância delas? Os pais também nunca estão de “babá”: quem trabalha como babá não vê o bebê como sua principal responsabilidade.

Terceira sugestão:“Papéis de gênero” são totalmente absurdos

“Porque você é menina” nunca é razão para nada. Jamais. Já ouviu algo como recomendações para “varrer direito, como uma menina”?. O que significava que varrer tinha a ver com ser mulher. O ideal é educar dizendo apenas para “varrer direito, pois assim vai limpar melhor o chão”.

Quarta sugestão:Cuidado com o perigo do Feminismo Leve

É a ideia de uma igualdade feminina condicional. Por favor, rejeite totalmente. É uma ideia vazia, falida, conciliadora. Ser feminista é como estar grávida. Ou se é ou não se é. Ou você acredita na plena igualdade entre homens e mulheres, ou não. O Feminismo Leve usa analogias como “ele é a cabeça e você é o pescoço”. Ou “ele está na direção, mas você é o copiloto”. Mais preocupante ainda é a ideia, no Feminismo Leve, de que os homens são naturalmente superiores, mas devem “tratar bem as mulheres”. Não, não e não. A base para o bem-estar de uma mulher não pode se resumir à condescendência masculina. O Feminismo Leve usa a linguagem do “deixar”. O marido não é um diretor de escola. A esposa não é uma colegial. Permitir e deixar, quando são usados unilateralmente, nunca deveriam fazer parte da linguagem de um casamento igualitário.

Quinta sugestão:Ensine às crianças o gosto pelos livros

A melhor maneira é pelo exemplo informal. Se a criança vê você lendo, vai entender que a leitura tem valor. Se ela não frequentasse a escola e simplesmente lesse livros, provavelmente se instruiria mais do que uma criança com educação convencional. Os livros vão ajudá-las a entender e questionar o mundo, vão ajudá-las a se expressar, vão ajudá-las em tudo o que ela quiser ser. Não se trata de livros escolares, mas dos que não têm nada a ver com a escola: autobiografias, romances, histórias. Se nada mais der certo, pague-as para ler. Dê uma recompensa.

Sexta sugestão:Ensine-as a questionar a linguagem

A linguagem é o repositório de nossos preconceitos, de nossas crenças, de nossos pressupostos. Mas, para lhe ensinar isso, você terá de questionar sua própria linguagem. Nunca chame suas filhas de “Princesa”. O termo carrega pressupostossobre sua fragilidade, sobre o príncipe que virá salvá-la etc, mesmo que ai ntenção seja boa. Então decida o que não dirá para suas meninas. Porque o que você diz a elas faz diferença. Ensina o que elas devem valorizar. Sabe quando dizem que já está na hora de uma menina ir procurar marido? Mude isso para já estar na hora de arrumar emprego. Pois não se deve ensinar às meninas que o casamento é algo a que elas devem aspirar.

Jargões

Tente não usar demais palavras como “misoginia” e “patriarcado” com elas. Feministas às vezes usam muitos jargões, e o jargão às vezes pode ser abstrato demais. Não se limite a rotular alguma coisa de misógina: explique a ela por que aquilo é misógino e como poderia deixar de ser. Ensine-lhe que, se você aponta X nas mulheres e não aponta X nos homens, então você não tem problemas com X, mas com as mulheres. X pode ser palavras como raiva, ambição, extroversão, teimosia, frieza, insensibilidade. Ensine-lhe a fazer perguntas como: quais são as coisas que as mulheres não podem fazer por serem mulheres? Essas coisas têm prestígio cultural? Se têm, por que só os homens podem fazê-las?

Sétima sugestão:Nunca fale do casamento como uma realização

Encontre formas de deixar claro que o matrimônio não é uma realização nem algo a que ela deva aspirar. Um casamento pode ser feliz ou infeliz, mas não é realização. Condicionamos as meninas a desejarem o matrimônio e não fazemos o mesmo com os meninos; assim, de partida, já há um desequilíbrio tremendo. As meninas vão crescer e se tornar mulheres preocupadas com casamento. Os meninos vão crescer e se tornar homens que não são preocupados com o casamento. As mulheres vão se casar com esses homens. A relação é automaticamente desigual porque a instituição tem mais importância para um lado do que para o outro. Então, qual é a surpresa se, em muitos casamentos, as mulheres sacrificam mais, em detrimento delas mesmas, pois têm de manter constantemente uma troca desigual? Uma das consequências desse desequilíbrio é o fenômeno muito sórdido e frequente de duas mulheres brigando publicamente por causa de um homem, que fica quieto, só observando.

Oitava sugestão: Ensine as crianças a não se preocuparem em agradar

A questão não é se fazer agradável, a questão é serem elas mesmas, em sua plena personalidade, honesta e consciente da igualdade humana das outras pessoas. Por favor, nunca imponha pressão à sua filha. Ensinamos as meninas a serem agradáveis, boazinhas, fingidas. E não ensinamos a mesma coisa aos meninos. É perigoso. Muitos predadores sexuais se aproveitam disso. Muitas meninas ficam quietas quando são abusadas, porque querem ser boazinhas. Muitas meninas passam tempo demais tentando ser “boazinhas” com pessoas que lhes fazem mal. Muitas meninas pensam nos “sentimentos” de seus agressores. Esta é a consequência catastrófica de querer agradar. Temos um mundo cheio de mulheres que não conseguem respirar livremente porque estão condicionadas demais a assumir formas que agradem aos outros.

Nona sugestão:Dê a elas um senso de identidade

É importante. Esteja atenta a isso. Faça com que ela, ao crescer, se orgulhe de ser, entre outras coisas, uma Mulher. E você deve ser seletiva: ensine-a a abraçar as partes bonitas da sua cultura e ensine-a a rejeitar as que não são. Atente-se também em lhe mostrar a constante beleza e capacidade de resistência dos africanos e dos negros. Por quê? A dinâmica do poder no mundo fará com que ela cresça vendo imagens da beleza branca, da capacidade branca, das realizações brancas, em qualquer lugar onde estiver. Isso estará nos programas de TV a que assistir, na cultura popular que consumir, nos livros que ler. Provavelmente também crescerá vendo muitas imagens negativas da negritude e dos africanos.

Décima sugestão:Preste atenção às atividades e aparência das crianças

Incentive-as a praticar esportes. Ensine as meninas a serem ativas. Façam caminhadas juntas. Nadem. Corram. Joguem tênis. Futebol. Pingue-pongue. Todos os tipos de esportes. Qualquer tipo de esporte. É importante não só por causa dos evidentes benefícios para a saúde, mas porque pode ajudar com todas as inseguranças quanto à imagem do corpo que o mundo lança sobre as meninas. Os estudos mostram que as meninas geralmente param de praticar esportes ao chegar à puberdade. Não surpreende. O desenvolvimento dos seios e a percepção de si mesmas podem atrapalhar na prática de esportes. Se a menina gostar de maquiagem, deixe-a se maquiar. Se ela gostar de roupas da moda, deixe-a usar. Mas, se não gostar, deixe também. Não pense que criá-la como feminista significa obrigá-la a rejeitar a feminilidade. Feminismo e feminilidade não são mutuamente excludentes. É misógino sugerir o contrário. Infelizmente, há mulheres que foram condicionadas a sentir vergonhas por seus interesses femininos.Mas nossa sociedade não espera que os homens se sintam envergonhados por interesses tidos como masculinos, tais como carrões e determinados esportes.

Da mesma forma, o fato de um homem se arrumar bem nunca é visto com a desconfiança que se aplica a uma mulher. Um homem bem-vestido não se preocupa que, por estar assim, sua inteligência, seriedade ou capacidade serão colocadas em dúvida. Uma mulher, por outro lado, está sempre consciente de como um batom chamativo ou uma roupa bem montada pode fazer com que os outros a vejam como frívola.

Moral

Nunca, jamais associe a aparência feminina à moral. Nunca lhe diga que uma saia curta é “indecente”. Associe a maneira de se vestir com uma questão de gosto ou de beleza, e não de moral. Se vocês discordarem sobre as roupas que ela quer usar, nunca lhe diga coisas como “você está parecendo uma prostituta”. Em vez disso, diga: “Essa roupa não fica tão bem em você quanto aquela outra”, ou não cai muito bem, ou não é tão bonita ou, simplesmente, é feia. Mas nunca “indecente”. Porque as roupas não têm absolutamente nada a ver com a moral.

Décima primeira sugestão:Ensine-as a questionar o uso seletivo da biologia como “razão” para normas sociais em nossa cultura

Muitas vezes usamos a biologia para explicar os privilégios dos homens, e a razão mais comum é a superioridade física masculina. É claro que é verdade que, em geral, os homens são fisicamente mais fortes do que as mulheres. Mas, se realmente dependêssemos da biologia como fonte das normas sociais, as crianças então seriam identificadas pelas mães e não pelos pais, pois, quando a criança nasce, o genitor biológico é a mãe. Supomos que o pai é quem a mãe diz que é.

Décima segunda sugestão:Converse com as crianças sobre sexo, e desde cedo

Provavelmente será um pouco constrangedor, mas é necessário. O sexo é uma mera ação reprodutiva controlada. Ou uma ação “apenas no casamento”, pois isso é mentira. Diga-lhe que o sexo pode ser uma coisa linda e que, além das evidentes consequências físicas, também pode ter consequências emocionais. Diga-lhes que os corpos delas pertencem a elas e somente a elas, e que nunca deve sentir a necessidade de dizer “sim” a algo que não quer ou a algo que se sente pressionada a fazer. Ensine-lhe que dizer “não” quando sentir que é o certo é motivo de orgulho.

Décima terceira sugestão:Romances irão acontecer, então dê apoio

Assegure-se de que ficará a par dos romances na vida de suas filhas. E a única maneira para isso é começar desde cedo a lhes fornecer a linguagem necessária para falar com você sobre sexo e também sobre amor. Ensine a elas que amar não é só dar, mas também pegar. Isso é importante porque damos às meninas pistas sutis sobre a vida delas. Não ensinamos isso aos meninos. Ensine-lhes que, para amar, ela precisa se entregar emocionalmente, mas que também deve esperar receber.

Décima quarta sugestão:Ao lhe ensinar sobre opressão, tenha o cuidado de não converter os oprimidos em santos

A santidade não é pré-requisito da dignidade. Pessoas que são más e desonestas continuam seres humanos e continuam a merecer dignidade. Nos discursos sobre gênero, às vezes, há o pressuposto de que as mulheres seriam moralmente “melhores” do que os homens. Não são. Mulheres são tão humanas quanto os homens. A bondade feminina é tão normal quanto a maldade feminina. E existem muitas mulheres no mundo que não gostam de outras mulheres. A misoginia feminina existe e esquivar-se a reconhecê-la é criar oportunidades desnecessárias para que as antifeministas tentem desacreditar o feminismo. A referência aqui é aquele tipo de antifeministas que adora dar exemplos de mulheres dizendo: “Não sou feminista”, como se uma pessoa nascida com vagina, ao declarar isso, estivesse de certa forma desacreditando automaticamente o feminismo. Se uma mulher diz não ser feminista, a necessidade do feminismo não diminui em nada. No máximo, isso nos mostra a extensão do problema, o alcance real do patriarcado. Mostra-nos também que nem todas as mulheres são feministas e nem todos os homens são misóginos.

Décima quinta sugestão:Ensine sobre a diferença.

Torne a diferença algo comum. Torne a diferença normal. Ensine-a não atribuir valor à diferença. E isso não para ser justa ou boazinha, mas simplesmente para ser humana e prática. Porque a diferença é a realidade de nosso mundo. E, ao lhe ensinar sobre a diferença, você a prepara para sobreviver num mundo diversificado. Ensine a nunca universalizar seus critérios ou experiências pessoais. Ensine que seus critérios valem apenas para ela e não para as outras pessoas. Esta é a única forma necessária de humildade: a percepção de que a diferença é normal.

Notas finais

É como um tapa em luva de pelica que esse manifesto se mostra essencial para os dias de hoje, com tantos índices de violência contra a mulher e discriminação no trabalho. Ao escrever a carta para a amiga que deu à luz uma menina pouco tempo antes, Chimamanda mostra que o feminismo não se resume a conceitos retrógrados ou estereótipos que seus detratores amam disseminar. E mostra que, mais do que nunca, é necessário passar o feminismo adiante para as próximas gerações.

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Quem escreveu o livro?

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana. Ela é reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que está tendo sucesso em atrair uma nova geração de leitores de literatura africana. Chimamanda nasceu na Nigéria, no estado de Anambra, mas cresceu na cidade universitária de Nsukka, no sudeste da Nigéria, onde se situa a Universidade da Nigéria. Seu pai era professor de Estatística na universidade, e sua mãe trabalhava como administradora no mesmo local. Quando completou dezenove anos, deixou a Nigéria e se mudou para os Estados Unidos da América. Depois de estudar na Universidade Drexel, na Filadélfia, Chimamanda se transferiu para a U... (Leia mais)

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